23.9.07

Solidão

"Solidão não é a falta de gente para conversar, namorar, passear ou fazer sexo... Isto é carência!
Solidão não é o sentimento que experimentamos pela ausência de entes queridos que não podem mais voltar... Isto é saudade!
Solidão não é o retiro voluntário que a gente se impõe, às vezes, para realinhar os pensamentos... Isto é equilíbrio!
Solidão não é o claustro involuntário que o destino nos impõe compulsoriamente... Isto é um princípio da natureza!
Solidão não é o vazio de gente ao nosso lado... Isto é circunstância!
Solidão é muito mais do que isto...
Solidão é quando nos perdemos de nós mesmos e procuramos em vão pela nossa alma."

(Poema de Fátima Irene Pinto)

Este poema diz tudo o que sinto neste momento.
Não existe nada em mim, sou o vácuo, a ausência, o negro, a dor, a confusão, sou um nada...
Não gosto de mim, de nada do que faço, daquilo que represento, e, sei perfeitamente que para além da desilusão que sinto por mim, os outros também a sentem.
Sou um estorvo. Principalmente quando entro nestes rasgos de lucidez, quando me vejo com esta clareza, quando me analizo e vejo os resultados negativos, e aí choro, esperneio, culpo-me e culpo os outros...
Todo o resto do tempo não sou eu quem vive aqui...é apenas o meu corpo que vagueia, tentando cumprir com o que me é pedido, tentando não sentir, para não ver...para não ver no monstro que me tornei, quando deixei de gostar de mim, quando me perdi algures na vida...
Não me recordo do que é sentir-me feliz. Não sei bem o que é sentir que os outros nos admiram, nos amam, nos aprovam...isso já à muito tempo que não sei!
Possivelmente deixaram também de me amar, quando eu própria comecei a odiar-me.
O anúncio bem diz "se eu não gostar de mim, quem gostará?" - neste aspecto não culpo ninguém por já não me amar...

Onde está aquela menina que tinha tantos sonhos, tantos projectos, tantos desejos?! Que queria lutar para chegar mais além?! Para onde ela foi?!
Não me reconheço. Aquilo que sou hoje, apesar de não saber ao certo o que é, nada encaixa nas lembranças de adolescente, em que julgava poder conquistar o mundo.
Afinal, nem a mim soube conquistar!
O que tenho eu de errado?! Só procuro ser feliz...apesar de não saber ao certo o que isso é.
É a tal da utopia, concerteza, mas olho à minha volta e vejo bocados de cada pessoa que existe poderem ser uma parte da minha felicidade.
Não sou boa a nada.
A profissão que persisto em querer ter, parece que não me quer a mim.
A tal da estabilidade profissional e financeira, parece cada vez mais longe.
Onde estará também o meu lado materno, quando me transformo num ser descontrolado, gritante, incapaz de tolerar?!
E a dona de casa que fui um dia, organizada, metódica, esforçada e dedicada...
Onde está a mulher carinhosa, beijoqueira, apaixonada, alegre, segura de si?!

Porque deixei eu chegar-me ao ponto de me odiar, porque não soube cuidar de mim, porque não consegui ver que estava assim, porque sou o oposto do que julgava vir a ser, e tornei-me no que nunca imaginei?!

Se existe coisa que sinto fazer com gosto - mais do que gosto - com necessidade, é dormir.
Quando durmo não estou consciente. Sou ausente de mim, vivo outras vidas, outras realidades...por isso se tornou tão duro acordar.
Não quero acordar mais!!!!

Não quero viver assim...
Houve um tempo recente em que pensei que o mal estava nos outros...mas o mal está em mim.
E quase destruí uma vida por ser inconsequente, por viver uma loucura...resta-me o conforto de alguém me sobreviver sem mágoa. Jamais me perdoaria se, pelos meus actos transloucados, uma pessoa que amo sofresse!!!

Descobri que me "agarro" às pessoas, só pelo facto de me fazerem sentir bem, de alguma forma.
A segurança de uns, para compensar a minha insegurança.
A alegria de outros, para acalmar a minha tristeza.
A euforia de uns, para esconder a minha apatia.
A paz de outros, para esconder a minha guerra interna.
A beleza de uns, para me esquecer da minha feiura.
A facilidade na comunicação de outros, para ocultar o meu 'autismo' social.

Sou uma lástima. Não me cuido. Não me gosto.
A minha vida não é nada do que imaginei: eu casei porque amava muito uma pessoa, mas também, vejo-o agora, porque me ancorei a ele de tar forma, que já não sabia respirar na sua ausência.

Quis um filho. Forcei muito para ele vir. Mas no fundo o mal era eu, que não me sentia bem, não me sentia feliz, completa, realizada...e julguei ser a maternidade a preencher essa lacuna.

Hoje, sou mãe, esposa, trabalho, de dona de casa resta apenas a cozinheira, de mulher, quase não resta nada!
Não me amo e no fundo sempre fui carente.

A solidão mata, mas primeiro corrói lentamente cada réstia de humanidade que perservo no corpo...e à minha volta, deixa um campo minado...infértil...obsoleto.

Sem comentários: