Não, ainda não venho aqui pôr as fotos de Berlim que o Ângelo me pediu... mas fica a promessa de ser breve, basta só que chegue o feriado para eu ter uns minutinhos de sossego!
Ora venho aqui só para dizer que o mundo está todo ao contrário e como me sinto após a viagem.
Lá viajei eu toda contente, mas precavida para o frio, que Berlim é no norte da Alemanha e que haviam previsões de frio... chego lá, só choveu um pouquinho numa manhã e senti-me cheia de casacos e sem t-shirts para vestir. E os alemães todos sem meias, de pernas ao léu, e estendidos em qualquer relvado que os raios de sol toquem. Pareciam lagartixas esticados ao sol pela cidade fóra. Cheguei a ver malta de bikini em pleno centro da cidade!!!
Em Lisboa, se alguém se lembrasse disso na Baixa, o mais certo era ser internado no Júlio de Matos ou então violado por um qualquer "quêfrô" habituado a só ver pano em vez de pele!
O Martim Moniz ficaria vazio pela certa...
Para contrapor isto, chego aqui ao burgo, ou melhor, à parvalheira, e está frio e chuva e já me constipei. Vim eu do calor alemão para o frio lusitano. Quem é que compreende isto?!
Lá voltei ao pijamita e meia quentinha no pé para dormir...
Quanto à cidade de Berlim, conquistou-me. Nunca fui fã de alemães, talvez porque a história mundial não abone a seu favor, a língua também não me atrai, e também não gosto nada de sandálias com meia branca, as salsichas também não são o meu prato favorito, mas realmente, quanto mais conheço do mundo, mais me desencanto com este país.
Sim, temos paisagens lindas, um clima (quase sempre) esplêndido, a comida é de chorar por mais, mas temos políticas de caca, políticos de cocó, um povo que na sua maioria já baixou os braços e desistiu de querer mais e melhor, já ninguém acredita em nada, vivemos resignados com a pouca sorte que temos e onde muito boa gente acha que o estado da nação é um jogo da equipa das quinas. Enfim, no coments! O queixume do fado tem uma razão...
Gostei da organização da cidade - é claro que com as guerras que eles tiveram no século passado, destruiram tudo e lá tiveram que reconstruir recentemente, podendo melhorar o urbanismo - dos edifícios novos que, sempre que próximos de outros menos novos, tentam manter a traça, de forma a se evitar o que nós vimos acontecer na Av da Liberdade, com prédios de Arte Nova deitados a baixo e substituídos por cortinas de vidro.
Gostei do verde, das flores, das árvores, da relva, porque é isto que existe em todo o lado! Como é possível, um país ainda tão atrasado como o nosso ter-se afastado tanto da natureza, achamos que árvores e flores são desperdício de dinheiro e de terreno. Berlim é uma cidade-jardim.
Adorei os canais - tenho um fraquinho por canais e rios - dão um ar mágico e poético, com as pontes e os barcos rio acima, rio abaixo...
Gostei dos preços - depois de no Verão passado ter desembolsado mundos e fundos em Paris, chegou a hora de perceber como é fácil ser alemão: se eles ganham mais que nós e se a comida e bens são ela por ela, no supermercado, quem é que fica a perder?! É claro que com bons ordenados e com acesso a bens mais baratos, sobra imensos €€€€ por ano para viagens a países terceiromundistas como o nosso.
Adorei as ciclovias e andar de bicicleta por todo o lado. Cá, no mínimo, aparecia a estrabuchar numa valeta qualquer, após ter inalado monóxido de carbono e ser atropelada por taxistas doidos ou putos sem carta.
Neste nosso país, só no alentejo ainda se vê - infelizmente menos - pessoas usarem diariamente a sua pasteleira para as deslocações ao trabalho, à taberna, à ribeira... sei lá mais o quê.
Sei perfeitamente que a geografia do terreno não permite ter pistas de bicicletas em todo o lado - até porque depois de um belo cozido à portuguesa ao almoço, com uma garrafa do tintol da casa, quem é que teria pernas e fôlego para subir à Estrela? Não falo da serra, mas do bairro lisboeta...
Mas o que me irrita é que para o Tuga, ser europeu é ter um audi ou um BMW, ainda que com 10 anos e a precisar de reforma, é vestir Emporio Armani ou Benneton, ainda que da feira, é andar de cú tremido e sem esforço, que isso das bicicletas é para as crianças brincarem nos milhentos parques infantis que o país oferece, dos pátios que todos os prédios têm nas traseiras, para as crianças brincarem em segurança...
Em Berlim vi homens de fato e gravata (e pastinha) deslocarem-se de bicicleta. Vi de todos os extractos sociais, de todas as cores e crenças.
Outra coisa que topei que cá era impossível é o facto de nos museus haverem espositores com folhas com informação mais detalhada daquilo que ali está exposto, para quem estiver interessado, basta tirar a folha e contribuir com 10 cêntimos... reforço o facto que não ser necessário por a moeda para aceder à folha!
E toda a gente cumpre. Cá até o expositor desaparecia!
Isto de ser Tuga é triste.
Agora quero ir a Amesterdão...