28.1.09

Conversas (da treta)

Se há coisa que eu gosto é de fotografia.
Consigo passar horas a ver fotos em sites da net, saboreando cada lugar, cada objecto, como se tivesse sido eu a autora. Não gosto muito é de ser fotografada, mas talvez seja porque me sinto mais à vontade do outro lado da objectiva e, verdade seja dita, também ainda não arranjei um fotógrafo à altura, principalmente quando eu me farto de tirar fotos giras, nas férias, nas viagens, nos momentos especiais e acabo por nunca aparecer em nenhuma.

Tenho imensa pena de já à algum tempo ter arrumado com a minha máquina, andar numa de preguicite aguda, porque vai na volta e até já me esqueci de metade do que aprendi no curso, que foi em 2000!
O tempo agora não anda pelo melhor, e eu sou um pouco depressiva e, como tal, o melhor é reservar-me para a fotografia nos dias solarengos que - espero! - não demorem muito a chegar. Para bem da minha sanidade mental ;)

A última vez que me passeei com a máquina foi em Paris, em Agosto do ano passado, e ainda nem revelei as fotos - sim, my precious é uma argêntea, a máquina digital que tenho é daquelas pseudo-máquinas, que já fazem tudo sozinhas e são muito pequenas, para viagens onde não quero, de todo, andar a carregar com um trambolho ao pescoço!

Vai daí, achei que Paris merecia o sacrifício... e já que agora me lembrei, a ver se no fim de semana revelo o rolo, antes que aquilo se estrague e eu fique sem fotos da Torre Eiffel, da rosácea de Notre Damme e muitos outros pormenores importantes.

27.1.09

Cidade sem rosto

"Procurava, a medo, encontrar o caminho de volta. Faziam precisamente 11 horas e treze minutos desde que acordara, longe do mundo que conhecia. Encontrava-se num caminho alheio ao seu, perdido entre prédios, ruas e pessoas, todas de cara desfocada, sem rosto, sem a possibilidade de um reconhecimento.
As placas com os nomes das ruas tinha sido arrancadas - seria de propósito? - e como tal era impossível de todo descobrir em que cidade estaria.
Sabia que se tratava de uma grande cidade, porque as cidades têm um cheiro próprio, a alcatrão, a fumo, a poluição, a sujidade, a ruas percorridas por gentes apressadas, loucas, desfiguradas. As vestes eram variadas, o que era explicável pela diversidade de culturas.
Não havia sons familiares, para além dos sons típicos do trânsito... era como se o mundo tivesse emudecido. E faltavam as chapas de matrículas às viaturas.
- O que vou fazer agora? - pensava enquanto não desistia de percorrer os passeios, num turbilhão de sentimentos que iam do medo à excitação.
Se ao menos se recordasse do que lhe acontecera... sabia que deveria ter estado muito tempo apagado, porque os músculos do pescoço doíam ainda da posição em que estivera durante... tempo indeterminado. Acordara com um calafrio a percorrer o corpo dormente, da falta de circulação sanguínea.Agora restava-lhe apenas encontrar um polícia, que deveria ser fácil, bastava concentrar-se na farda azul escura e no chapéu. Se encontrasse um polícia, talvez pudesse ele acompanhá-lo a casa, no seu carro patrulha.
Mas esta cidade em que ele se perdera era uma cidade imaginária, sem nome, sem rostos e sem polícia. O medo tomou conta de si, apavorou-se, desvairado percorria as ruas em círculos até enlouquecer. E ele sucumbiu à agonia que sentia, afogando-se no lago salgado."

23.1.09

A solidão interior

De cada vez que te vejo, sinto que trazes cravado na pele o desgosto e a solidão.
Não consigo perceber porque sofres tu, calando a dor e a agonia de viver no silêncio.
E ainda mais, porque finges e escondes a verdade, por trás de um sorriso e de um olhar vazio!?
Tens medo, vergonha, temes que te olhem de soslaio... mas sabes que sentires-te assim não mudará o que os outros pensam, ou ignoram. É preciso acabar com o silêncio...

Ao contrário do que os outros pensam, a solidão não é o simples facto de se estar só, sem alguém para compartilhar os bons e os maus momentos.
Solidão é quando, mesmo com a casa cheia, a tristeza e o vazio são maiores que o barulho e a alegria dos outros.


Solidão, é quando damos conta que construímos diálogos intermináveis com alguém que não existe, ou que simplesmente não está ali naquele momento.
Solidão, é quando esses diálogos chegam ao ponto de serem discussões, onde afincadamente tomamos uma posição e nos debatemos por determinada ideia.
Solidão, é acreditarmos que esse diálogo aconteceu e, por esse motivo, nos sentirmos mais aliviados por termos tido a coragem de o fazer.
Solidão é no final da discussão não ter ninguém para nos apoiar ou condenar.


Solidão, é passarmos tanto tempo sem proferir um som que até perdemos essa faculdade.
Solidão é crer que o abraço dos sonhos tenha de verdade nos envolvido, e com ele nos sentirmos aconchegados.
Solidão é, no calar da noite, sabermos que durante o dia o som será o mesmo: um vazio total interior. E que tudo não passou de uma tentativa frustrada da nossa mente para nos enganarmos a nós próprios.


É um profundo buraco negro, sem vácuo, que nos consome a lucidez aos poucos e nos condena à crueldade maior - a exclusão social.

21.1.09

Avaliação de professores...



...e por causa disso já comecei a aprender a tocar guitarra! ;)

20.1.09

Era o que mais faltava!

Parece que a velhice, a par com as excessivas horas passadas na leitura, já colhem os seus frutos...
... e lá vou marcar consulta de Oftalmologia!

19.1.09

Greve de Professores

Hoje estou em casa...

17.1.09

São vidas...

(foto tirada daqui)

Vidas perdidas
Vidas distantes
Vidas sentidas
Vidas de amantes
Vidas vividas
Vidas errantes
Vidas merecidas
Vidas degradantes
Vidas suicidas
Vidas desesperantes
Vidas de raparigas
Vidas de debutantes
Vidas pouco vividas
Perdidas num instante!

Sofia Feliz

16.1.09

s/t

"Tenta esconder o que realmente sente, sempre que a vê chegar ao trabalho, com aquele ar fresco que só as flores podem ter. Diz bom dia a medo e estremece. Disfarça o facto de ter pousado os olhos no seu decote, por uma fracção de segundos. Sente-se a corar.
Ela, talvez para disfarçar também ou apenas por pudor, sorri sem o olhar nos olhos. O seu sorriso é límpido como as águas claras de uma nascente e os seus dentes, brancos, relembram a neve, gélida e fofa, do alto das mais secretas montanhas.
- Que palermice - pensa para si - ao fim de 35 anos de vida é que te deu para te apaixonares!
Realmente, Júlio era conhecido por todo o seu núcleo de amigos, como aquele típico homem do século XX, chamavam-lhe até o soma e segue, pelo simples motivo de trazer sempre uma rapariga nova debaixo da asa, e andar já a arrastar a asa dele a outras.
Elas pareciam apreciar bastante o ar desmazelado, com a sua barba de 3 dias e meio, por fazer, e o cabelo desgrenhado, já a necessitar de um belo corte. Nem o facto de não ter papas na língua, despachando-as sempre que se fartava, como uma criança que se farta de um brinquedo, correndo de seguida para se atracar a outra - a primeira que lhe parecesse encher-lhe as medidas - , nem isso e nem os avisos que todos davam no café da Zélia, onde eram passadas as tardes de copos depois do expediente, mudavam os suspiros e os olhares que todas lhe deitavam, fazendo olhinhos como se desconhecessem a bela peça que ele era.
- Agora assim não dá! Dou por mim a pensar nela... devo estar doente! - e nem se deu conta que tinha proferido estas últimas palavras num tom mais elevado que o que era suposto.
- Estás doente? - disse alguém que tinha chegado quando Júlio se entretinha a construir castelos no ar, com a sua musa adorada.
- Olha, olha...por cá, Afonso? - levantou-se e apertou-lhe a mão. - Folgo em ver-te. O que te trás por cá? Já à muito que não te via. Não ligues aos meus desabafos - disse ao amigo, enquanto ela saía com um dossier na mão - acho que é um resfriado, isto já passa... - sem sequer tirar os olhos da porta basculante, que teimava em abanar, olhando já o vazio.
- Bem vejo qual é o teu resfriado - e sorriu - desse resfriado não te vais tu curar tão depressa, ou muito me engano eu!
- Deste resfriado nunca eu padeci... - e suspirou profundamente."

Os prazeres que me restam

No último post que escrevi dei conta de estar a devorar o Sputnik, meu amor, do Haruki Murakami e estar quase a começar A cor da Paixão, da Sveva Modignani.

Pois bem, a minha leitura anda tão frenética que terminei não o 1º (onde é que ele já vai!), mas o 2º livro... e ainda nem é meia-noite. Ou seja, desde 3ª feira às 17h30 até agora, li dois livros inteirinhos. Ando seriamente a fazer concorrência ao Prof. Dr. Marcelo Rebelo de Sousa e sim, também eu tenho renunciado a horas de sono só para me entregar a este prazer.

Confesso: já não tenho vida própria!
Acordo, trato do filhote, arranjo-me, agarro na pasta - devidamente munida do livro do dia - e lá vamos os dois para a escola, cada qual para a sua. Entro na estação a ler, saio da estação a ler...

A minha vantagem é que levo 1h20m de comboio para chegar ao emprego. Com a viagem de regresso e com alguns furos pelo meio do horário, a verdade é que tudo é motivo para abrir o livro e ler, ler, ler.

Estou possuída... e já estou a engendrar uma ida ao hipermercado da zona, porque vi lá uns que estavam com promoção e que me andam a fazer o chamamento...

14.1.09

Ler com prazer!

Gostava que o dia tivesse 48 horas, porque assim teria tempo para tudo.
Tenho passado o meu dia de folga a ler, ler, ler... ando numa fase de quase transe, sempre de livro novo em punho, ficando a ler até às tantas da manhã, ainda que tenha que acordar cedo.

Sempre que vou às compras, "perco" imenso tempo a namorar os próximos livros, a tomar-lhes o gosto. Chego a acreditar que não sou eu que os escolho, mas eles que me escolhem a mim!

Deveria ter estudado guitarra clássica diariamente, mas não me apeteceu largar o livro e, vendo as horas que são, o mais provável é ir assim, sem melhorias, para a aula de amanhã. Estou condenada a não ter abertura de dedos, a ser atrofiada em acordes que exigem mais ginástica na mão...

Deveria também ter aproveitado para preparar umas aulas, para que no fim de semana não tivesse que o fazer, e pudesse passear. Assim, lá vou passar o fim de semana agarrada ao portátil e aos manuais!

Mas a vontade de ler é brutal. Quase como um vício, que a cada letra, palavra, frase e parágrafo vai tornando-me numa dependente alucinada.

Leitura do momento (e só até a hora de adormecer, pois faltam poucas páginas...):


Estou a adorar a história, o tipo de escrita, a forma como me sinto envolvida no enredo! Devo dizer que o comprei ontem em Setúbal, iniciei a ler às 17h30, antes mesmo de uma reunião de 2h30m. Depois, já na cama, retomei a leitura e hoje, a partir das 10h da manhã foi ler até à hora de almoço.
Enfim, amanhã conto já levar para a viagem de comboio o outro que comprei ontem em Setúbal.

12.1.09

A minha vida é a escola


Novamente entrei na turbulência do dia-a-dia, das viagens de comboio com as minhas leituras, dos corredores barulhentos, de empurrões e gritos típicos da adolescência, dos pátios cheios de miúdos que passeiam, conversam, jogam, namoram.

Regressei às aulas, às perguntas, às respostas, ao quadro e ao giz, às carteiras riscadas e ao lixo no chão, de ninguém, às conversas paralelas, aos recadinhos no caderno, aos TPC's e às faltas, aos testes e às fichas.

Voltei à sala de professores, cheia de colegas, que apesar do stress da profissão e da malfadada avaliação de professores, estão sempre bem dispostos, porque fazem aquilo que gostam.

Se é coisa que não consigo entender é o facto de ouvir muitos miúdos (e graúdos) dizerem que não gostam da escola, que são só coisas más, que é um martírio e um frete tremendo manterem-se lá.

Eu sempre amei a escola.
Desde que, com os meus 5 anos, saí das saias da mãe e fui largada lá - porque foi assim que me senti, com um aperto no coração, enquanto acenava e me despedia - e desde que começou a aventura da aprendizagem, fiquei fascinada!

Quis ser professora, quis ser bailarina, quis ser pintora, quis ser actriz. Acabei por ser licenciada em Design e apaixonei-me pelo ensino, assim, numa experiência aos 21 anos, acabadinha de sair da faculdade.

Enquanto aluna, amei cada dia da escola, sobretudo a secundária, desde o 7º ao 12º ano, escola onde encontrava os amigos, onde passei bons momentos em grupo, em grupinhos ou a pares - e os amores da adolescência e a sua importância! - e as aulas, sim, porque eu gostava da maioria das aulas, gostava da maioria dos professores, e guardo muitos deles no coração, gostava das partidas que a turma fazia - nada comparado à "brincadeira" com armas falsas na escola do Cerco, no Porto.

Éramos, nessa altura, entre 1985 e 1995, miúdos inocentes, sem malícias como alguns de hoje que vejo todos os dias. Sobretudo, éramos educados e receávamos os castigos, as chamadas de atenção, as informações aos pais e a vergonha que era ser mandado para a rua. Os maus alunos e mal comportados jamais eram os ídolos dos outros, ao contrário do que se passa na escola de hoje.


Com todas as contradições que existem à volta da escola, com tudo o que me podia fazer desistir, com todos os (pre)conceitos e todos os medos, com todas as notícias que teimam em vir nos jornais, com a desresponsabilização da sociedade, dos pais, dos filhos, mesmo com a falta de reconhecimento de alguns miúdos pelo trabalho do professor, ainda assim, eu sou apaixonada pela escola e isso faz-me, aos 31 anos, ainda lá andar!

Sou professora com muito gosto: gosto da balbúrdia da juventude, gosto do ambiente da sala de aula, de dar sempre muito de mim e também receber algo em troca dos alunos.
É por alguns sorrisos, alguns olhares cúmplices, algumas inconfidências no intervalo, que eu vivo a minha vida de professora, outrora aluna, e sempre escolante.

10.1.09

Caminhos tortuosos

(foto de cachapa, tirada daqui)

Ao longo deste tortuoso e infinito caminho,
procuro um abrigo, um aconchego, um ninho
que me dê alento, força e coragem
para seguir na vida, esta viagem!

Olho à minha volta e apenas vejo
gigantes imortais que presenciam,
a loucura daqueles que se perdiam,
sem contar com a doçura de um beijo.

E por mais que ande, por mais que corra,
que me desespere e me atormente,
nada pode durar para sempre,
e ainda assim te procuro até que morra!

Sofia Feliz

A centelha da razão

[...]Não sabia o que fazer. Mais uma vez a vida a deixara num beco sem saída, ou melhor, de mãos atadas, como se fosse ela a culpada e merecesse ser prisioneira eterna, prisioneira da sua própria vida. Olhara em redor, de nariz levantado, buscando nada em parte nenhuma, tentando desenvencilhar-se do amontoado de problemas que a envolviam, como novelos de lã baralhados e amontoados com o tempo, numa velha cesta de um sotão qualquer.
Se tivesse estado atenta aos sinais, teria desvendado as pistas que a vida dá, a todos nós, de cada vez que nos questionamos, que nos deparamos com uma encruzilhada de caminhos sinuosos e íngremes, mas que, como tudo na vida, têm um fim, um outro lado, uma resposta, mesmo que não seja aquela que desejamos. Bem que ela própria se esforçava por se manter firme e fiel ao que defendia. Sabia, com cada gota de sangue do seu corpo, que viver implica escolher. Quem não escolhe não vive. É humano e impossível de contrariar, visto que, até quem resolve sentar-se num canto à espera do fim dos seus dias, acaba também dessa forma por fazer uma escolha.
A diferença é que essa é a escolha final, vazia de futuro, enquanto que quem se enche de esperança, mesmo olhando o céu cinzento, quem sorri, mesmo quando chora por dentro, quem se esforça, mesmo quando pensa não aguentar mais, essa escolha é a própria vida, que se escolhe a ela mesma, tornando-nos meros fantoches de desejos, sonhos, anseios, medos, paixões...
Desde o dia em que tomara a decisão, a bendita decisão!, como tantas vezes dizia, sentia-se mais tranquila, numa paz branca, silenciosa, inexplicável. Podia fechar os olhos por largos minutos e sentir apenas o pulsar das suas veias ao ritmo do coração, escutar o silêncio, que o silêncio tem um som muito próprio a que apenas alguns acedem, de tempos a tempos. Mas agora, que finalmente tinha que assumir a sua posição, sentia-se mais irritada, atordoada com as mil e uma ideias que tentava, em vão, inventar na sua cabeça. Até o olhar turvara e os cheiros característicos de um beco de cidade a inebriavam, chegando a causar o vómito e espasmos . [...]

7.1.09

É hoje... sem medos!

Hoje é dia de sorrir, de levantar a cabeça e seguir em frente.
É dia de recordar o passado, com um sorriso nos lábios e com uma chama acesa no coração.
É dia de esperança, confiança e optimismo.
De ter coragem, de agir mais e pensar menos!
Hoje é que é...


"Os Deolinda"

Ou então não, que dizem que vai chover...!

3.1.09

Mau ínicio de 2009

É claro que não estou nada contente...
Tenho o marido a preparar a viagem de domingo para Israel.
E com o ambiente inflamado pela guerra fico com o coração nas mãos e a lagrimita no olho.
Já não sei se peça para aquilo se agravar entretanto, para ele não ir, ou se reze aos santinhos todos para que a ira Israelo-palestiniana se acalme entretanto, um break assim de um mês, pelo menos, visto que acreditar que aquele conflito termine é o mesmo que acreditar no Pai Natal!
Ora com um imenso planeta Terra o N. tinha logo de ser enviado para o Médio Oriente... bolas!!!!

(foto tirada daqui)