"Tenta esconder o que realmente sente, sempre que a vê chegar ao trabalho, com aquele ar fresco que só as flores podem ter. Diz bom dia a medo e estremece. Disfarça o facto de ter pousado os olhos no seu decote, por uma fracção de segundos. Sente-se a corar.
Ela, talvez para disfarçar também ou apenas por pudor, sorri sem o olhar nos olhos. O seu sorriso é límpido como as águas claras de uma nascente e os seus dentes, brancos, relembram a neve, gélida e fofa, do alto das mais secretas montanhas.
- Que palermice - pensa para si - ao fim de 35 anos de vida é que te deu para te apaixonares!
Realmente, Júlio era conhecido por todo o seu núcleo de amigos, como aquele típico homem do século XX, chamavam-lhe até o soma e segue, pelo simples motivo de trazer sempre uma rapariga nova debaixo da asa, e andar já a arrastar a asa dele a outras.
Elas pareciam apreciar bastante o ar desmazelado, com a sua barba de 3 dias e meio, por fazer, e o cabelo desgrenhado, já a necessitar de um belo corte. Nem o facto de não ter papas na língua, despachando-as sempre que se fartava, como uma criança que se farta de um brinquedo, correndo de seguida para se atracar a outra - a primeira que lhe parecesse encher-lhe as medidas - , nem isso e nem os avisos que todos davam no café da Zélia, onde eram passadas as tardes de copos depois do expediente, mudavam os suspiros e os olhares que todas lhe deitavam, fazendo olhinhos como se desconhecessem a bela peça que ele era.
- Agora assim não dá! Dou por mim a pensar nela... devo estar doente! - e nem se deu conta que tinha proferido estas últimas palavras num tom mais elevado que o que era suposto.
- Estás doente? - disse alguém que tinha chegado quando Júlio se entretinha a construir castelos no ar, com a sua musa adorada.
- Olha, olha...por cá, Afonso? - levantou-se e apertou-lhe a mão. - Folgo em ver-te. O que te trás por cá? Já à muito que não te via. Não ligues aos meus desabafos - disse ao amigo, enquanto ela saía com um dossier na mão - acho que é um resfriado, isto já passa... - sem sequer tirar os olhos da porta basculante, que teimava em abanar, olhando já o vazio.
- Bem vejo qual é o teu resfriado - e sorriu - desse resfriado não te vais tu curar tão depressa, ou muito me engano eu!
- Deste resfriado nunca eu padeci... - e suspirou profundamente."
Ela, talvez para disfarçar também ou apenas por pudor, sorri sem o olhar nos olhos. O seu sorriso é límpido como as águas claras de uma nascente e os seus dentes, brancos, relembram a neve, gélida e fofa, do alto das mais secretas montanhas.
- Que palermice - pensa para si - ao fim de 35 anos de vida é que te deu para te apaixonares!
Realmente, Júlio era conhecido por todo o seu núcleo de amigos, como aquele típico homem do século XX, chamavam-lhe até o soma e segue, pelo simples motivo de trazer sempre uma rapariga nova debaixo da asa, e andar já a arrastar a asa dele a outras.
Elas pareciam apreciar bastante o ar desmazelado, com a sua barba de 3 dias e meio, por fazer, e o cabelo desgrenhado, já a necessitar de um belo corte. Nem o facto de não ter papas na língua, despachando-as sempre que se fartava, como uma criança que se farta de um brinquedo, correndo de seguida para se atracar a outra - a primeira que lhe parecesse encher-lhe as medidas - , nem isso e nem os avisos que todos davam no café da Zélia, onde eram passadas as tardes de copos depois do expediente, mudavam os suspiros e os olhares que todas lhe deitavam, fazendo olhinhos como se desconhecessem a bela peça que ele era.
- Agora assim não dá! Dou por mim a pensar nela... devo estar doente! - e nem se deu conta que tinha proferido estas últimas palavras num tom mais elevado que o que era suposto.
- Estás doente? - disse alguém que tinha chegado quando Júlio se entretinha a construir castelos no ar, com a sua musa adorada.
- Olha, olha...por cá, Afonso? - levantou-se e apertou-lhe a mão. - Folgo em ver-te. O que te trás por cá? Já à muito que não te via. Não ligues aos meus desabafos - disse ao amigo, enquanto ela saía com um dossier na mão - acho que é um resfriado, isto já passa... - sem sequer tirar os olhos da porta basculante, que teimava em abanar, olhando já o vazio.
- Bem vejo qual é o teu resfriado - e sorriu - desse resfriado não te vais tu curar tão depressa, ou muito me engano eu!
- Deste resfriado nunca eu padeci... - e suspirou profundamente."
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