(foto de André Reis Duarte, tirada do site www.olhares.com)
Continuo a sentir-me mal. As coisas não passam só porque desabei, disse tudo o que queria e também o que não devia.
Estou saturada de 'fingir' que as coisas ficam melhores...como se fossem apenas problemas de desabafo, e pronto!!!
O que sinto é muito sério e preocupante...perdi a vontade de viver...
Não vejo nada na minha vida de estimulante, que me faça querer continuar a lutar.
Sei que o que todos pensam é que eu tenho um filho, e que isso deveria ser razão mais que suficiente para ter vontade de continuar a viver.
Mas não, não sinto isso. Chamem-me o que quiserem. Já pouco me importa.
Penso que ele, enquanto é pequeno, até se adaptaria bem à minha ausência, e que por certo teria outra mãe mais equilibrada, segura de si, e mais disponível.
Quando não nos amamos, quando não estamos bem, infelizmente também não tratamos bem os outros.
O meu estado emocional tem-me tornado ausente, embora fisicamente presente. Sei que ele merece mais do que eu lhe dou. Infelizmente também isso me agrava o que sinto, porque sei perfeitamente que ao ser como sou, tenho muitas limitações, e que isso o prejudica. Sinto remorsos de ser assim!!!
Se pudesse, iria fazer uma viagem para longe. Sozinha.
Perguntam: então mas se sentes solidão, vais te isolar?!
A verdade é que só, mesmo acompanhada, já eu me sinto. E longe daqui deixaria de sentir a pressão contante para ser perfeita...poderia conhecer novas pessoas que não me cobrariam nada, poderia ter conversas desinteressadas e despreocupadas...e poderia também encontrar-me. Se é que isso ainda é possível!!!
Preciso descobrir interesses que me puxem para cima. Escrever, apesar de aliviar a dor, também me desgasta, porque o turbilhão de sentimentos não pára, e é muito frustrante ver que por mais que fale deles, eles não vão embora. Mas fingir que eles não estão lá, também não soluciona...
A família, por muito que a ame, não compensa esta falta de interesses e objectivos concretizáveis. Tem, de facto, contribuido até para a minha perda do ser individual, o que tem gerado estes problemas de identidade.
Há muito tempo, tempo demais, que passei a ser a filha, a esposa, a mulher, a professora, a explicadora...e deixei de ser a mulher.
Perdi essa mulher algures e custa encontrá-la de novo. Principalmente quando à minha volta tenho pessoas que precisam que seja a filha, a esposa, a mãe...e não percebem que a mulher tem que estar cá, para que todas essas funções resultem.
Esperemos que seja breve todo este processo menos positivo da minha vida.
Estou cansada demais. Sem fôlego. Desesperada e apática ao mesmo tempo.